domingo, 14 de março de 2010

A real história12


Leandro me levou para a rodoviária com seu carro, e Pedro foi acompanhar levando minha mochila. Despedimo-nos, e entrei no ônibus. Como de costume dormi mais que um urso polar quando hiberna. Cheguei em São Paulo toda torta, mas ainda faltava a odisséia que é pegar um simples metrô e ônibus até minha casa. Chegando a meu lar- doce-lar, me senti mais que aliviada. Foi nesse momento que a saudade bateu. Todas as aventuras, problemas, confusões, perrengues, brigas, discussões, piadas, dores de barriga, e claro, gargalhadas vieram à tona e me deu uma nostalgia precoce.

Agora cá estou eu, contando toda minha viagem. Minha vida por Minas Gerais e a tão inexplorada Estrada Real. Escrevi isso mais por preguiça, por incrível que pareça. Não quero contar mil vezes a mesma história, por isso comecei a escrever, além de ter algum registro do que foi esse mochilão do qual TODOS que tem espírito de aventura, bom humor, condicionamento físico e coração e mentes abertas devem fazer.

Obrigada a todos que passaram por essa viagem. A recepção de vocês me tocou, o calor é intenso e reconfortante. Não esquecerei jamais como fui tratada e, tentarei repassar toda essa hospitalidade que obtive com vocês.

Obrigada Minas Gerais, principalmente, Muito Obrigada aos mineiros, que fazem MG ser o que é.

A real história11


Nessa república cheia de testosterona, o que prevalecia era a gentileza, e claro, PIADAS. Acho que nunca escutei tanta piada e gafes de mineiro em uma só noite em toda minha vida. Não lembro de todas, mas as mais engraçadas foi quando o Pedro contou de um cara que pediu para o irmão ir na porta de casa para ver se o Google Earth conseguiria captar sua imagem, assim ele iria ver o irmão na tela do computador. Outra gafe era o pai de um amigo de Pedro que ficava rodando o copo d água enquanto não bebia, pois água parada dá dengue. (EU CHORAVA DE RIR). Uma que escutei também foi de uma menina (mineira) que ficou surpresa ao saber que o horário de verão era o governo que decretava, ela pensava que eram os astronautas. E quando o Zé ficou em dúvidas sobre o curso de biologia, não sabia se era classificado na parte de biológicas ou humanas, pois biologia lida com o corpo, com o ser humano, então para ele era um curso de humanas. Paula contou que quando estava na Bahia, não encontrava suco de laranja em nenhum lugar. Nem ela e nem seu amigo. Não entendiam o porquê, até começaram a questionar porque não plantam laranjas na Bahia, ou ao menos importassem de outro estado, assim teriam suco de laranja. Aí vão lá e perguntam a uma bahiana:

- Moça, não tem suco de laranja?

- Tem não....

- Não tem suco de laranja na Bahia toda! Não encontro nenhum lugar que tenha! Por que não tem suco de laranja? Isso é muito esquisito!

Resposta (A MAIS ENGRAÇADA QUE ESCUTEI):

- É que dá um trabalho arretado pra espremer!

Hahahaahahaha todos morremos de rir, o pior de tudo, essa história é verdadeira. Agora, minha vontade de mochilar pela Bahia aumentou. Minha missão será encontrar um local onde se venda suco de laranja espremido na mão. Vai ser no mínimo curioso, aguardem os próximos mochilões!

Mas como ainda estou relatando minha viagem pela Estrada Real, contentem-se com essa história por enquanto. Conheci São João Del Rei, de lá peguei uma Maria Fumaça para Tiradentes. Como disse anteriormente, meu estômago não estava bom, adicionando aquele sol e calor onde até o diabo usaria bermuda, eu não estava passando nada bem. Conheci as igreja principais e voltei para São João Del Rei.

No dia seguinte, fui às igrejas e nos principais pontos turísticos tirar fotos com Zé, um dos meninos da república. Depois fomos ver o teste do carrinho-jeep que os estudantes de engenharia mecânica fizeram para a competição que terá aqui em São Paulo, entre os engenheiros de todas as faculdades de engenharia mecânica. Não posso negar que AMEI ver aquilo. Foi super divertido e acabei conhecendo duas meninas simpaticíssimas, uma se chama Luana e a outra Yulia. Foram as únicas meninas de engenharia mecânica que eu conheci, e entre todos os engenheiros elas foram as mais simpáticas. Saindo dos testes do carrinho-jeep, fomos beber, todos muito legais.

Nesse mesmo dia, domingo, resolvi voltar para casa. Leandro, outro rapaz da república me levou à rodoviária, (esse é paulista, mas já está com um super sotaque de mineiro, como Paula disse, está enganando bem).

Despedi-me de Paula primeiro, pois ela iria sair para comer com seu filho antes de minha partida. Arrumei minha mala, tomei banho e quando finalmente ia trancar a casa de Paula para deixar a chave na república dos meninos, a tranca não fechava. Fui procurar a outra chave e tinha deixei a porta aberta, aí o que me acontece? Os dois gatos de Paula fugiram. O desespero bateu, eu nunca vi aqueles gatos fora de casa. Pensei que Paula iria vir para São Paulo para me caçar e me matar, corria atrás dos gatos, e os meninos ao invés de me ajudarem, davam risada da minha cara. Zé ligou para Paula e perguntou se os gatos podiam sair. Ela disse que sim, fiquei mais que aliviada.

A real história10


Estava tão cansada que quase não fui até o final de minha programação. O meu plano era começar em Diamantina e ir descendo até São João Del Rei, e como São João é próximo de Tiradentes, iria fazer também Tiradentes, mas de Maria Fumaça e voltar para São João. Fui convencida a continuar até o final por um dos amigos do Vitor, que é um dos integrantes da república de estudantes de Mariana, a República Renegados. Vitor tinha recebido mais dois amigos, um chamado Igor, (só decorei seu nome porque é o mesmo nome do meu ex-namorado) e o outro eu não lembro, mas todos o chamavam de Caveira. Caveira parece um indiano, é super magro e flexível, ele coloca o pé atrás do pescoço, tudo isso de pé, fizemos até um vídeo com as nossas bizarrices no carnaval. Se sentado, coloca os dois pés atrás do pescoço. É esquisitíssimo, mas super legal. Então ele me convenceu a continuar minha viagem. Assim segui eu no dia posterior para São João Del Rei.

Demorei muitíssimo para chegar em São João Del Rei, mas como fui dormindo o caminho todo, quase não senti o tempo passar. Só acordei com a muvuca do pessoal do ônibus tentando ver o acidente que tinha ocorrido na pista. Eram dois caminhões que se chocaram, mas entre os caminhões havia um carro. Era uma vez um carro, pois o automóvel ficou destroçado. Depois de duas horas de atraso, chego em São João Del Rei, tinha saído de Mariana às 19:30, era para ter chegado às 23:30 mas cheguei à 1:30 da matina. Paula que estava me esperando na rodoviária, devia estar mais cansada que eu, ou não, pois eu também estava exausta. Paula é amiga de uma outra moça que também se chama Paula, entrei em contato anteriormente com a segunda Paula para me hospedar e conhecer a cidade. As duas Paulas são formadas em letras pela universidade de São João Del Rei, as duas são professoras e uns amores, foi muita sorte ter-las conhecido.

Paula, a que me hospedou é uma figura. Muito alegre, bem disposta, faladeira (assim como eu), espontânea, expansiva, trabalhadora e graças a Deus ama uma festa. Ela tem um filinho de dez anos de idade chamado Luís. A empregada dela chama-se Luciana, aí olha a confusão. Quando ela chamava Luciana (a moça que trabalha para ela, eu pensava que era eu, quando ela chamava o Lulu (meu apelido, mas também de Luís), eu também respondia pensando que era eu. Era um tal de Lu, Lulu, Luluzinha, Luciana e ninguém sabia com quem ela queria falar. Era engraçado.

Depois de tanto tempo viajando, meu estômago já estava me castigando. Para ser mais clara, eu estava com piriri. Tudo o que comia, ia embora em alguns minutos, comida entrava e comida saía. Meu corpo já estava cansado de tanta viagem, mudança de alimentação, especialmente de temperatura. Além disso, o carnaval e as trilhas exigiram muito de meu corpo, que não está lá muito atlético hoje em dia.

Paula a minha grande hospedeira, estava em um ritmo de trabalho frenético, mesmo assim me acompanhou em um churrasco na República Capim Canela, da qual ela mesma me apresentou a galera. Nessa república há somente homens, todos estudantes da Universidade Federal de São João Del Rei, e TODOS fazem engenharia de alguma coisa, a república fica de frente à casa de Paula. Quando Paula queria falar algo com eles, ou eles com ela, era aquela gritaria, cada um na sua casa, mas gritando na janela, qualquer um que passasse na rua escutava o churrasco que estava sendo planejado, (se tivesse a audácia de entrar na conversa, pode ser que eles até convidassem o intrometido para o churrasco hehehe). Paula, no dia seguinte ao churrasco da República Capim Canela fez um churrasco em sua própria casa, para retribuir a gentileza do último. Como sempre todos foram muito receptivos, e para não perder o costume, me achavam maluquinha em fazer essa viagem sozinha, apesar de tudo, também me admiravam pelo meu feito.

A real história 9


Ok eu já critiquei demais os gringos, acho que é a convivência, mas de forma geral, não nego que os adoro. A viagem não seria a mesma sem eles. Siomon, o Cara Inglês, assim é seu apelido aqui no Brasil. É uma pessoa incrivelmente ativa, mais que eu até. Uma vez ele me disse essa frase, é verdade:

- Lulu (eu), you don’t call me to a party. I’m the party.

Isso é a mais pura verdade. O Cara Inglês sabe se divertir. Vava, o tcheco, também gosta de uma festa. Tem apenas 27 anos e se mostrou muito bem sucedido para sua idade. Jeff tem apenas 23 anos de idade e já está fazendo o pós graduação aqui no Brasil, em São Paulo (Claro! Em questão de estudos, SP é a melhor do Brasil. Hehehe- só para provocar, mas lembre-se o que falei antes, as brincadeiras no Brasil remetem-se a uma verdade hehehe). Pelo que entendi, ele quer ser cientista, é do estado e da Universidade de Indiana, do modo que estuda em pleno carnaval, vai ganhar o premio Nobel de ciências rapidinho. Claro que ele não foi tão inteligente assim, pois deveria ir pelo caminho mais fácil, ter nascido negro, estudado em Harvard, se tornado presidente do mundo, ter tropas do exercito de seu país em duas guerras simultâneas, não fazer nada para a paz, ter um bom discurso e um sorriso largo, e ganhar o premio Nobel por isso. Mas seria o da paz. Ah gente! Mas premio Nobel é premio Nobel, não precisa ser necessariamente o de ciências (brincadeirinha hihihihi).

Passamos ótimos tempos em Mariana e em Ouro Preto. para se pegar um ônibus que vai e volta todos os dias a cada dez minutos, (dez minutos a lá mineiro, demora mais que dez minutos - salve aviso). Custa R$2,65 e se você comprar antes, no buteco em frente ao ponto de ônibus (ou pondiônis para os mineirin) vai custar R$2,60. Nem é pelo desconto em si, mas pela facilidade de não ficar procurando dinheiro e atrasando a viagem que é mais vantajoso. Um dia ainda voltarei para Ouro Preto, por causa do carnaval não consegui ver muita coisa. Mas se Deus quiser e ele vai querer, voltarei quando menos esperar. Mariana, Ouro Preto e Tabuleiro são lugares dos quais eu voltarei para aproveitar melhor, me deixou um gostinho de quero mais.

Acabando o carnaval e sem ônibus para qualquer lugar, pois todos que estavam lá para o carnaval já estavam voltando para sua velha rotina de trabalho (lerê, lerê), eu estava ferrada, lembra? Eu tinha brigado com Renan e estava sem carro. Já tinha passado uma semana na República Casa Veia, os gringos já tinham ido embora e eu já conhecei a ficar incomodada com a minha presença lá. Afinal, era um abuso passar mais tempo do que o combinado, além do mais, tinha que seguir minha viagem.

A real história 8


No segundo dia, mais quatro pessoas novas para serem hospedadas chegaram. O Jeff dos Estados Unidos, Simon de Londres, Vava (esse é o apelido, pois o nome JESUS, é Václav e mais o sobrenome que é impronunciável) da República Tcheca e sua namorada Lisania, que é muito bonita, simpática e obvio, tinha que ser 100% brasileira.

Todos muito legais, mas cada um com sua personalidade. Cá entre nós brazucas, os gringos em geral, tirando os gringos latinos, ressalto os LATINOS AMERICANOS, pois os latinos europeus se mantêm com essa característica européia de ser direto em suas análises. Voltando ao meu ponto de discussão, todo gringo que não conhece nossa cultura têm um modo de falar tão direto, um estilo germânico de ser, que me tira do sério. Tentarei ser mais clara em minha explicação. Nós os brasileiros, temos uma malemolência em nossas conversas, temos medo de ofender as pessoas, e mesmo que queiramos ofender, como por exemplo, racismo, nós fazemos de forma sutil, ou seja, com piadas. Assim, se a pessoa responder de forma agressiva, falamos:

- Ah! Qualé meu? (sotaque de paulistano) é brincadeira! Não sabe brincar?

Já europeu, e a parte norte da América (tirando o México claro, porque eles são nossos primos), de RESTO, TODOS TEM UMA CONVERÇA AGRECIVA, que chega a um ponto quase competitivo. Antigamente eu ATÉ suportava isso. Eu no meu intercâmbio para a Bélgica pensava comigo mesma:

-Luciana, você vem de um país subdesenvolvido, eles (os europeus), nesse modo direto de ser, conseguem ter um desenvolvimento muito melhor que no seu país. Pois brigam e lutam pelo que está errado, assim buscam a melhoria.

Meu pensamento não mudou muito, ainda acho que se fossemos mais diretos e até mais “briguentos”, não teríamos tanta coisa errada. (EM ESPECIAL NA POLÍTICA). Mas hoje em dia penso que é justamente essa nossa atitude que nos faz ser queridos e bem vistos no mundo como um todo.

Toda vez que viajo e falo inglês, ou espanhol, ou holandês (tento, pois meu holandês foi para o saco depois de tantos anos), sempre que falo que sou brasileira um sorriso se abre de tal forma que fico lisonjeada. O Brasil não é o melhor lugar do mundo, aqui a corrupção rola a solta. O nosso atual presidente Lula é super bem visto no exterior, até o presidente do mundo (heheheh) Obama disse; “He is my man”. Enquanto passava isso na TV, eu pensava:

- Se eu fosse a editora desse jornal, colocaria a trilha sonora da banda “Men at work” durante a reportagem, qualquer música, só para associar com o nome da banda com o acontecimento. Ficaria interessante, nosso presidente apertando as mãos do presidente do mundo, (ops! Quer dizer, “trabalhando”) e a população aqui, at work.

Meu objetivo de discussão é simples. Gringos, (dos tipos específicos de gringos que mencionei europeus e a parte norte da América, tirando o México), são tão críticos, mas tão irritantemente críticos, que mais parece um jogo para ver quem é mais chato, ops! Digo...crítico. Parece que quanto mais crítico, mais inteligente você é, afinal, sempre se pode melhorar, assim a crítica sempre vai existir. Ok, ok! Eu entendo esse significado, tanto é que sou eu que estou escrevendo, senão for isso que significa então eu não sei, mas entendo assim. Está bem, é lógico esse pensamento. MAS ESSA ATITUDE É IRRITANTE DEMAIS. Por isso que eles entram tanto em guerra.

Brazuca tem uma coisa chamada MALEMOLÊNCIA. Pode-se traduzir em diversas maneiras. Como preguiça de brigar pelo que é correto, como medo de brigar pelo que é correto, como falta de disposição ou tempo para brigar pelo que é correto (isso se aplica em SP, porque se eu for brigar por tudo que acho que está errado, mais às 2 horas de transito que se pega em dias normais, ou seja, se não estiver chovendo; ou se alguém parar para amarrar os sapatos, acredite adicione mais 1 hora e meia a cada ocorrido que possa parar essa megalópole). Bom, se fosse parar para discutir a melhoria de um todo, jamais conseguiria fazer um oitavo das minhas tarefas diárias. Outra forma de tradução é uma bem simples, chamada de DIPLOMACIA, ou de forma mais coloquial, Política de Boa Vizinhança. Não é a toa que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil é tão requisitado e respeitado (fora do Brasil, porque dentro malemá sabemos em que eles estão trabalhando, vai ver que é por isso que é tão eficiente, pouca gente para dar palpite).

É essa Política de Boa Vizinhança que exercitamos desde cedo, pois nossa sociedade é assim, é justamente isso que faz com que sejamos queridos no mundo. Posso até estar errada nesse próximo ponto, mas acredito que a fama de latinos, especificamente brasileiros sermos preguiçosos, está sendo modificada. Por mais que nos países de primeiro mundo os brasileiros façam trabalhos que precisem de força bruta e não inteligência, isso continua sendo um trabalho, o fazemos bem, e por um preço baixo. Triste realidade, porém verdadeira. Concordo que não sejam TODOS os brasileiros tão bem dispostos a trabalhar, pois afinal, esse país é um país continental e temos nossas diferenças, vocês verão meus relatos mais para frente. Mas os que saem daqui se igualam por isso, disposição para trabalhar, ou infelizmente, pelo tráfico de drogas ou prostituição, que não deixa de ser um trabalho duro, entretanto ilegal.

Último ponto, e juro que voltarei ao relato de minha viagem. Eu detesto essa imagem que o Brasil vende de mulatas seminuas sambando. Primeiro não somos só mulatas, acredito que o Brasil seja o país mais misturado do mundo, então esquece só as mulatas, temos de tudo, inclusive mulatas. Além das péssimas músicas que UNIVERSITÁRIOS (incluo até mesmo eu em época de carnaval, pois só toca isso) escutamos quando começa a ficar mais calor, porque calor é sempre. Sério, se algum estrangeiro ler o que eu estou escrevendo e entender, PASSE A DIANTE ISSO QUE ESTOU AFIRMANDO. As mulheres brasileiras, generalizando, NÃO SOMOS BONITAS. Eu não sei bem o porquê, mas o que vejo em minhas viagens, pelo Brasil e comparando com as européias, as brasileiras estão engordando, somos baixinhas, em sua maioria o bumbum é grande demais, e pelo que sei os europeus não gostam disso. Para imitar as americanas e européias colocamos silicone, pinta-se os cabelos de loiro e usam-se lentes de contato para os olhos ficarem mais claros, sendo que nossa pele é queimada de sol, essa aparência não combina. Assim como é moda alisar os cabelos, tão liso como das japonesas. Se junta isso com uma mania de fazer cirurgia plástica a cada mudança da moda, nos colocando no ranking de segundo país que mais faz cirurgia plástica no mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.

Resumindo, imprime-se tanto a beleza padronizada de loiras, brancas, olhos claros, altas e magras, que só falta inventarem uma cirurgia no joelho para ficarmos todas com um metro e setenta para mais. Nossa média é um de sessenta e cinco a setenta, homens de um e setenta até um e oitenta, se passar disso, já é alto aqui no Brasil. As modelos que vendemos, são do sul do Brasil. Todas descendentes de alemães, mas em nossa maioria não somos assim, somo baixinhas. Não sou contra cirurgias plásticas, eu mesma quero fazer uma. Só não vou contar onde. Mas faria sem problemas, se tivesse dinheiro. O que sou contra é essa maluquice de não se aceitar como é, somente melhorando seus pontos fortes e não se modificando por completo.

As moças mais bonitas que já vi, são bonitas por causa de sua atitude. Não sei o nome dela, só a vi uma vez na vida, no trem, quando eu estava indo para a aula de teatro. Era uma negra, (está bem, ela era alta e magra, ou eu que era/sou baixinha, mas eu tinha uns 15 anos de idade na época, cresci desde então). Essa moça usava umas roupas tão legais, mas tão coloridas e combinando, e seu cabelo era um Black Power, parecia que ela tinha um globo terrestre na cabeça, os óculos gigantescos, o máximo. Ela entrou no trem e todos pararam para vê-la, um rapaz até deu o lugar dele para a moça sentar, eu fiquei morrendo de raiva porque tinha acabado de sair da escola, estava com a mochila super pesada, pois tinhas os livros da escola, mais os materiais do teatro, andei o caminho todo do colégio até a estação de trem e estava cansada, eu também queria um lugar, mas tive que ficar de pé. Pensei e até falei na hora (mas só que baixinho para ninguém escutar):

-Só porque ela tem peitos e uma bunda grande, e eu ainda não, ela tem um banco!

Anos se passaram e isso não mudou muito. Minha genética japonesa não me ajudou em quesito peito e bunda. Mas se tivesse, também não combinaria com a minha estrutura pequena e fina. Por isso não colocaria silicone, e não seria essa a minha cirurgia plástica (vocês nunca saberão o que eu faria ao menos que eu conte).

Voltando a viagem. A falta de paciência em alguns momentos com os gringos, quando eles falavam do Brasil me irritava. É minha gente, de tanto andar com estrangeiro eu desenvolvi um “Toma Lá Dá Cá” em minhas conversas. Fala muita besteira sobre meu povo, minha cultura, e nossos hábitos que eu devolvo na mesma moeda. Nisso incluo também as minhas conversas com os próprios brasileiros quando começam a criticar a cidade de São Paulo. Aqui todo mundo é de fora, ou seja, aqui é um lugar aonde as pessoas vêm para crescer, estudar, trabalhar e por isso é super lotada. Temos uma coisa chamada Transito Caótico. Sim, se São Paulo não tivesse trânsito e fosse próximo a praia seria o melhor lugar do mundo. Como não tem, há algo a se criticar. Mas essa é a MINHA cidade e quem não está feliz que saia. Ninguém aqui pede para ficar, se sai um, pode estar certo que tem mais quinhentos querendo seu lugar. Se estiver aqui é porque algo de bom em troca a cidade te dá, mesmo que seja só um bom emprego. Então, cala a boca e aproveita a oportunidade que estão oferecendo.

Creio que isso é o que mais me incomoda quando falo com gringos, a falta de tato em conversas com brasileiros. Se estiver no meu país, observe e aprenda com o que temos de proveitoso. As coisas inúteis e erros que temos, anote e guarde para si, aposto que vocês, os estrangeiros, também têm coisas inúteis e estúpidas. Se for falar disso em uma conversa, lembre-se do que temos de melhor, o tato, o cuidado nas escolhas das palavras, a chamada malemolência. E fale sua opinião, mas com cuidado. Afinal gringos, vocês estão no Brasil, e eu ainda estou fazendo o favor de falar com vocês em inglês. Quando vocês estiverem aptos para ter uma conversar mesmo que seja muito superficial, faltando vocabulário e em português brasileiro, vocês já terão passado um tempo aqui, já terão absorvido um pouco de nossa cultura, assim aceitarei melhor suas críticas.

A real história 7


Uma nova fase começa. Cansada, na verdade exausta, com as coxas doendo de forma sobrenatural, chego à República Renegados, em Mariana. As melhores pessoas que poderiam aparece naquela hora em que estava tão cansada e chateada com o ocorrido anteriormente apareceram. TODOS, absolutamente todos, me receberam extremamente bem, em especial Sérgio, o rapaz do qual eu entrei em contato para me hospedar. Esse eu levarei para vida toda. Seus amigos são mais que excelentes, sinto até certa vergonha em pensar como eu e meus amigos recebemos os outros viajantes e mochileiros aqui em São Paulo. Em São Paulo, somos distantes, reservamos, em MG muito pelo contrário. Meninos e meninas me trataram de uma forma que poucas pessoas já me receberam.

Eu sinceramente não tenho palavras para agradecer a todos. Os que mais tive contato foram Sérgio, o que realmente me hospedou, Leandro o menino mais fofo de todos, Vitor se você conhece a família dele, entende o porque de ser tão gentil, boas famílias geram boas pessoas, Ana e Gabriel que são namorados e combinam perfeitamente, os dois muito calados, mas extremante abertos a novas pessoas. Além das meninas da outra República Choppana, todas simpaticíssimas, além de cozinharem super bem. Falando nisso Mari (a que melhor cozinha), gostaria da receita do feijão tropeiro e daquela gororoba feita de mandioca, MENINAS ME PASSEM PLEASE, aquilo é MUITO BOM MESMO.

A real história 6


No final da trilha estava ele lá, esperando por mim. Voltamos para o Albergue de carro, demos carona à moça da entrada da trilha que não havia nos passado a informação que tinha guias. (Olha só, a gente estava dando carona para o pessoal, pois assim escutávamos as histórias, como a do Zé do jipe que já contei, e outro idoso maluco que não lembro o nome, que estava caçando bambu no meio do mato para fazer vara de pesca. Só que essa moça da entrada da trilha, entrou no carro e ROUBOU minha BLUSA DE FRIO NOVINHA DA ZARA, uma amarela que ganhei da minha tia avó que cá entre nós tem muito bom gosto, que estava no banco de trás. A blusa estava lá o caminho todo caso eu sentisse frio, pois Renan gosta de ar condicionado, eu também, mas não direto na minha cara e o tempo todo. Assim deixava o ar, eu não reclamava, era só colocava a blusa sempre que quisesse. Só deixava na parte de trás do carro. A BABAQUINHA DAQUELA MOÇA QUE SE FAZ DE SONSA ROUBOU, pois no mesmo dia fui tirar as minhas coisas do carro do Renan e não encontrei. Eu me lembro de ter afastado a blusa para ela sentar, mas deixei no banco de trás, pois até então todos os que demos carona, se comportaram excepcionalmente bem. Quando era de noite e fui ao carro, notei que não estava lá. QUANDO SE DA CARONA A SENHOR VELHO OK, mas é só dar carona para uma mulher que dá nisso! QUE ÓDIO!!! Eu sempre digo que meninos, homens e afins são mais confiáveis que meninas. ISSO É UMA PROVA, MINHA BLUSA LINDA, VAI SER VESTIDA POR UMA BARANGUINHA MALTRAPILHA A PARTIR DE AGORA).

Como disse, pela noite ainda não nos falávamos direito. Renan emburrado e dentro da cabeça dele, CERTÍSSIMO, começou a beber com o pessoal do Albergue. Nisso eu fui andar a cavalo ainda de noite, e ele lá bebendo. Chegou a um ponto que eu perguntei se íamos ficar lá mais um dia ou não, se sim, eu compraria um pacote de passeio para o dia seguinte, queria andar a cavalo e ir às cavernas e outras cachoeiras. Passeios que o próprio Albergue oferece. Resposta que obtive:

-Agora eu farei o que meu coração mandar! (Vira e pergunta para a pessoa do lado). Tem um caixa eletrônico aqui? (Detalhe que nesse distrito só tem dois ônibus que passam durante toda a semana, e vai para a Conceição do Mato Dentro, vocês realmente acham que vai ter caixa eletrônico?). Eu vou ficar aqui Luciana! Faça o que você quiser. Se quiser tem um ônibus amanhã para Conceição do Mato Dentro.

Rááááá amigo... Mexeu a onça com a vara curta! Não me provoque JAMAIS, pois eu brigo, esperneio, falo pra caramba com quem eu me importo. Se fizer isso com alguém, é porque eu gosto dessa pessoa. Quando calo a minha boca é porque o caldo está engrossando, ou deixei de me importar com a pessoa. Então disse:

-Você está certo do que está dizendo?

Renan:

-Sim.

Dia seguinte, 6:30 da manhã estou de pé, esperando outro alberguista que também vai pegar o ônibus. Sigo para Conceição do Mato Dentro, depois Belo Horizonte, para finalmente, em pleno carnaval, chegar em Ouro Preto, e me alojar em Mariana, uma cidadezinha histórica e universitária, LINDA e o melhor de tudo; próxima a Ouro Preto mas não tão lotado (mesmo assim estava cheia). No caminho de Conceição do Mato Dentro e BH a Serra do Cipó tira o fôlego de qualquer um, a natureza mais uma vez se mostra, mistura a imponência de montanhas grandiosas com graça e beleza.